Liberdade de expressão … / ?

dezembro 11, 2008 § 5 Comentários

Andei pensando sobre como me manifestar sobre a permanência na prisão da garota que participou da pichação na Bienal, Caroline Pivetta da Mota. Acaba caindo na discussão de se pichação é arte, e aí complica. Então vamos complicar:

Uma das propostas da Bienal desse ano era questionar a própria Bienal como modelo de instituição de arte e tinha como mote a interação com o público. Fazer o público interagir. Bom, o público interagiu. Fazendo o quê? Questionando a Bienal como modelo de instituição de arte. Onde está o problema?

Veja, não se trata de defender o vandalismo. A meu ver, foi diferente do que foi feito na Galeria Choque Cultural, depredando obras de outros artistas. Se, na Bienal, eles tivessem passado desse limite – que divide expressão de vandalismo – certamente seria outro caso. Nem defender a pichação de locais públicos, prédios, residências. Mas a pichação num evento de arte não deveria ser vista de outra forma? Até um mictório já ganhou status de obra de arte.

Considerando que a intenção declarada de uma Bienal de Arte Comptemporânea era provocar reações, e considerando que provocar uma reação presume que ela nem sempre será previsível, me parece uma grande hipocrisia tratar a ação dos pichadores dentro de um espaço de arte com essa severidade. E manter uma garota na penitenciária por uma estupidez que sai da parede com duas demãos de tinta.

Aliás, apagar as pichações foi outra atitude retrógrada para aquela que se entitula modelo de instituição de arte contemporânea. Se era isso que queriam que questionássemos, já estamos fazendo. Eureka!

Eu tenho a impressão de que este será um daqueles momentos históricos na arte, quando os contemporâneos não estavam preparados para encarar que a arte mudou. Que ela está se tornando mais acessível para contemplação mas também para expressão, e a consequência dessa democratização é que vai vir de tudo: até a expressão na sua forma mais bruta, por razões óbvias. As reações de violência dos garotos e os vidros quebrados na Bienal não fazem parte da ação mas da sua educação falha, da falta de orientação e do que aprenderam que é preciso para sobreviver.

Por isso eu proponho para a próxima Bienal que essa “democratização da arte” seja feita de fato, sem demagogia. Liberem um espaço para a expressão de todos. Mais do que uma lousa e giz, liberem um grande espaço para qualquer expressão. Deixem um andar vazio de novo. A própria proposta do andar vazio era a de proporcionar mais interação com o público. Tudo a ver. O andar vazio nunca mais esteve tão cheio. (Claro, liberem em segredo, pois uma das premissas da pichação é o proibido e um “espaço para isso” não teria o mesmo valor.)

E, por favor, liberem a garota. Não do processo, mas a deixem, pelo menos, responder em liberdade como os outros. Pichem a cara dela, ponham para fazer serviço comunitário, mas penitenciária

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